Cultura Musical
14/07/2023 Rock and Motor rolling 2023

Rock and Motor rolling 2023

Para os aventureiros da estrada, os peace makers e os bad boys

Redação

São Paulo, 14 de Julho de 2023.

3 Minutos.

Todas às vezes que tento imaginar estas duas combinações, vêm-me à memória uma sequência de
imagens. Nem todas agradáveis, mas todas marcantes.

Não é difícil relacionar motocicletas com rock and roll. As ideias tem um nascedouro psicossocial
bastante próximos, senão os mesmos. Vejamos.

Musicalmente, mesmo o óbvio esconde seus meandros, nenhuma que se aproxime de imediato, ou de uma mesma raiz se revelam. Mas, conceitualmente, o rock joga com a ideia de rebeldia, liberdade, crítica estética, social etc. Nele, o uso da eletricidade é uma constante. Portanto, um dado da modernidade, da indústria nascente nos séculos XVIII e XIX naquelas bandas.

Há a relação com os cavalos selvagens. No caso norte-americano, dos pôneis que escaparam da cultura invasiva europeia. Espanhóis, ingleses e franceses, predominantes no Centro- Sudeste dos EUA, e que depois expandiram-se e transferiram-se para o Oeste, Norte e Sul. Foram armados de coragem, ganância, necessidades, medo e armas de ferro e fogo.

Sobras e reconstrução

As grande etnias ameríndias locais, milenares, não resistiram, mas algumas souberam aproveitar, ao seu modo, os recursos dos invasores europeus As que ficaram com as sobras. O choque foi intenso. Arrasador. Basta saber disso!

Livres para correrem nas pradarias e grandes planícies de lá, os cavalos montados pelos apaches, os pôneis, evocam esta imagem. Seminoles, Creeks, Sherokees, Shawnees, Pawnees, Shoshones, Schyenes, Mohycans e diversas outras tribos foram rebaixadas à sombra da indústria da cultura branca, que sempre os retratava como bandidos, gritando, brandindo seus rifles, arcos e flechas, contra os soldados brancos e uniformizados do exército e da cavalaria invasores.

Eram grandes culturas locais, e muitas já estavam em determinado estado de arte razoavelmente avançado. Tinham língua e linguagens variadas, arquitetura, teciam suas vestimentas, alimentação, conheciam e se relacionavam com as espécies animais e vegetais. Plantavam colhiam, caçavam, usavam adornos e pinturas cerimoniais. Curavam-se de doenças e enfermidades. Negociavam umas com as outras, tocavam seus instrumentos, cantavam e dançavam. Tinham religiões, deuses, conversavam com seus espíritos ancestrais. As mulheres, os idosos e as crianças eram respeitadas.

Bandeiras da discórdia e cantos de paz (?)

A ideia de que eram bandidos, saqueadores, cruéis, vagabundos e inúteis é uma construção cultural branca europeia. Parte do princípio da dominação, de exploração das riquezas e guerra. Do mais puro racismo e ignorância sobre a humanidade e sua enorme diversidade. Entretanto, nem todos os brancos que lá chegaram eram inimigos.

Eram, de fato, imigrantes e sobreviventes tentando adaptar-se às novas terras e, até certo ponto, fugidos das enormes dificuldades encontradas em seus países de origem, vitimizad0os pelo engodo de seus próprios governantes e elites. Mas, estavam invadindo um territórios de seres humanos forte, orgulhosos, livres, com suas leis próprias e regras bem definidas.

Desrespeitosamente, milhões de inocentes foram jogados pelas forças sociais das elites europeias em terreno minado. Não existiam as Américas, nem os estados eram unidos. Mas, as diferenças culturais e a ética dos brancos não eram compatíveis com o novo mundo. Ainda não o são! Os conflitos foram inevitáveis.

Saindo deste cenário trágico-épico do confronto de civilizações e introduzindo as notas dissonantes da realidade atual – meados dos anos 1950 no Século XX – o rock ‘(re)nasce’ nos EUA com sotaque caipira do interior, negro do Norte-Sul e, muito provavelmente, com o quadrado rítmico dos povos originários. Aquela batida acentuada de 2/4 é típica dos tambores cerimoniais e do status marcial dos brancos em guerras de invasão. Pode misturar que não dá outra! É um híbrido cultural. E o que não é, no limite?

Ali tem de tudo um pouco.

Claro que a indústria cultural – capitalismo é intrusivo e corrosivo – tratou de colocar as cores e os modos que lhe interessavam na ideologia combinada entre os donos do poder, da inovação, das tecnologias do ferro, do aço, da eletricidade, do concreto, do asfalto do dinheiro e seus deuses poluentes e modernos. Cravou firme suas garras sobre corações e mentes!

Aí ficou fácil estabelecer ligações com velocidade, gasolina, motores a explosão, bombas, revólveres, rifles, facas, e, dali também surgiram as gangues, as milícias, as “máfias”, e como em todo o velho mundo, a história se repetiu, viroticamente, viciada.

Sem purismo. Conflitos entre as nações originárias do território invadido (tem quem chame de conquistas) também ocorriam, mas os motivos parecem terem sido outros. De qualquer forma, são dados a serem pesquisados. Ruim mesmo foi o relacionamento inicial do rock com as motocicletas. Isto apesar das mulheres bonitas das fotos, das paisagens magníficas, das mensagens oblíquas da liberdade sem responsabilidade, da rebeldia (sem ou com causa) já refletindo a decadência do modelo, e o incentivo da fúria e da violência das primeiras e segundas guerras.

O incidente com os Hell Angels que marcou a banda Rolling Stones. Os fatos são singulares e icônicos. Motociatas tornaram-se manipulações ideológicas. Liberdade um grande negócio político, de marketing. O sonho acabou? E o pesadelo?

Misturar motos com rock and roll tem um significado e requer a atenção de músicos, dos sociólogos, dos estudiosos. Os tempos são outros, diriam. Certo. Mas as ferramentas, ainda que apresentem alterações tecnológicas de acordo com o seu tempo, são as mesmas. Hinos de guerra, de amor e de paz. A pedra gira…

Eis umas bandas de rock, suas músicas que lembram as motocicletas, e um filme revelador.

A canadense Steppenwolf: Born to be Wild
Os caipiras red neck norte-americanos Lynyrd Skynyrd: Simple Man
Do filme Road to Hell
Do filme Marlboro Man

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