“Trazido d”África pra Américas de Norte e Sul, tambor de tinto timbre tanto tom tocou. E neve, garça branca, valsa do Danúbio Azul. Tonta de tanto embalo, num estalo desmaiou. Vertigem verga, a virgem branca tomba sob o sol, rachado em mil raios pelo machado de Xangô. E assim gerados, a rumba, o mambo, o samba, o rhythm’n blues, tornaram-se os ancestrais, os pais do rock and roll…Rock é o nosso tempo, baby, rock and roll é isso. Chuck Berry Fields Forever, os quatro cavaleiros do após calipso, o após calipso. Rock and roll capítulo um, versículo vinte, século vinte, século vinte e um”.
Redação
São Paulo, 10 de abril de 2024
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Na ABL o baiano Gilberto Gil aportou com o recôncavo literário explicitado de suas letras, poéticas e musicais. Implícitos, os veleiros de sua verve trafegam, navegam de vento em popa, e aportam de Norte a Sul no país continente, em que contido está o conteúdo dos seus produtivos 81 anos de idade. Homenagem mais do que merecida, assim como a do índio Ailton Krenak.
Os dois são expoentes da ancestralidade recusada por muitos em um país excludente e torto na estrutura racial que o compõe e eleva. Índios e negros, naturais e imigrantes (forçados), ambos antigos moradores do planeta, tanto quanto brancos e amarelos. Alias, idade o que menos importa aqui, mas tempo de casa conta. Mais do que na hierarquia das veleidades, conta a história de cada um. O que nos trazem, batuques, deuses da mudança, colares, pingentes, rugas e cabelos brancos numa bagagem cultural que ministrou e não se pode desprezar, sob pena de perder a cor do tempo e muito da luz da visão e da vida.
A dúpé. Mo júbà

Gilberto Gil é antes de tudo poeta, e por conta de sua poesia, pode filosofar com rima. Das dores que a pele negra carrega, cota de sofrimentos escoando pelo dedilhar nas cordas de sua lírica, na fluência dos acordes de seu violão, na liberdade criativa com a língua que o maltratou e lhe lambeu feridas.
Agora, na casa da literatura nacional, onde o “beletrismo” já fez moradia, a profundidade, a qualidade da ‘última flor do lácio‘ encontra-se rendida aos pés daqueles que um dia desprezou, escravizou e tratou como sem alma.
Aos que zombaram de seu peso em arrobas, da imposição a uma condição animal de carga, aos que negaram um centímetro sequer de terras para continuarem vivendo, a resposta veio.
Um arado amarado a uma estrela vincou e sulcou a terra e dali nasceu a riqueza, a beleza, a força produtiva do país. Do trabalho escravo na terra, nas construções, nas fazendas e nas ‘refazendas’. Quanta vida deu seus melhores frutos.
O tempo rei, ensina e cobra!
Quanta – Gilberto Gil – veja e ouça aqui.