Quando ouvi, pela última vez a música de David Bowie, Major Tom de 1972 (ou por ali), a primeira imagem que me veio à cabeça foi a de major Anthony Nelson, aquele atrapalhado personagem da série de TV Jeannie é um Gênio.
São Paulo, 04 de fevereiro de 2023.
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Como nos contos árabes, ou persas, das Mil e uma Noites, sem autores definidos, misturados às intepretações francesas posteriores, uma loira bonita e sensual saiu de uma garrafa depois de 2 mil anos e alterou a vida do dedicado militar norte-americano. A moral era um tanto machista (coisa de militar), mas também realista. A genialidade da mulher (como Sherazade) deixava de cabeça para baixo toda a estrutura de vida e planos do major Tom (Anthony, Tony Nelson), um astronauta careta, bom mocinho. Enquadrado no que restava do sonho americano.
Bem que Bowie avisou. E esta é uma relação possível. Pode ser que o cantor inglês estivesse falando de outro major imaginário (Thomas?), e pela letra da canção, tentando avisa-lo, a partir de uma base terrestre, de que algo mudaria dali pra frente. De qualquer forma o major Nelson, como era chamado pelos pares no seriado, bem que poderia ser o simples Tony ou Tom. “Cuidado as coisas saíram do controle!“, cantava com seu violão, o bardo camaleônico.

Ele, como artista músico, compositor e performer sabia se aproveitar das temáticas do momento para tratar a realidade factual de sua visão/leitura de mundo. Mas, a balada de Bowie foi, à época, um tanto abafada por outra toada, composta em alusão ao ser astronauta (em tons erótico-sarcásticos) auto declarado por Elton John: Rocket Man. O foguete mencionado pelo pianista inglês, devido à sua poética e tendências intimistas, abriu espaço para um confessionário de sentidos e intenções. A explosão dos seus motores deitaram abaixo os tijolos amarelos da estrada e pavimentou de hipotéticos diamantes o céu de Lucy. Era para onde Elton, com seu estilo extravagante Liberace, quer deixar o brilho de sua estrela. Bem mais comercial do que David, este um culto e eclético grão de poeira estelar neste planeta.

Tudo bem, era a época de ouro da indústria armamentista, de ocupação dos espaços para além do planeta, de pura competição entre o mundo polarizado após o fim da Guerra Fria entre EUA x URSS. Entre os espaços disputados estavam os corações e mentes das gerações nascidas nos anos de 1960. Kennedy (EUA), Krushov (URSS), Fidel (Cuba) e Mao (China) eram as estrelas ascendentes. O resto dos países nem existia. Até hoje mudou quase nada.
A Europa estava em plena reconstrução, quando foi tomada de assalto pelas notícias e imagens cruéis da guerra do Vietnã (o presidente R. Nixon insistiu na patranha). A elas se somaram os conflitos entre Israel – Egito, Palestina, Angola, Moçambique, entre outras guerras africanas, Afeganistão, Coreias, fora os ataques de militares em diversos países na América Latina, Central e do Sul.
Curiosamente, em todos os países fragilizados por políticas colonialistas de exploração. Os alvos eram óbvios e bem determinados, após planejamento e interesses de manutenção do status quo imperial (depois é que se tornaram G7 ou G8).
Mas, isso é outra história. Aqui tratamos de Música, e até de televisão (vá lá!). Os musicais nunca saíram de cena, só trocaram a ‘roupagem’ e o formato dos palcos. Ao invés das pessoas irem ao teatro assisti-los, eles agora entravam nas casas, para serem apreciados em suas poltronas, na hora do jantar, com ou sem pipocas. Bem antes da MTV a música já coexistia com outras artes. Ora como coadjuvante, ora como espetáculo principal. Medievais, saltimbancos, teatro de rua ou de Cabarés, audições especiais para reis e rainhas, duques e duquesas. Óperas etc. Eram um modo excelente de traduzir fatos da realidade, de desnuda-la ou distorce-la, ao sabor dos interesses locais. Gosto muito de W.A.Mozart
Eis o que torna a Música grande, muito maior do que seus intérpretes e executores. Sem saudosismos ou desrespeito. Apenas algum merecem mesmo, por razões distintas um lugar nesta arena, mesmo considerando tratarem-se das típicas batalhas individuais humanas. Cada um na sua encarando de frente os seus personagens. Palcos agitados da Indústria Cultural.